Fetiesc

Conferência Estadual de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora

Sabino Bussanello*

Quero dizer a vocês que sou contra a terceirização porque ela é o espaço de terror e adoecimento dos trabalhadores e trabalhadoras (Ricardo Antunes)

Realizou-se nos dias 26 e 27 de junho de 2014, em Florianópolis, a 2ª Conferência Estadual de Saúde do Trabalhador e Trabalhadora, Direito de Todos e Todas e Dever do Estado. O evento contou com a participação de, cerca de 300delegados – representantes de usuários, gestores e prestadores de serviços -, eleitos nas Conferências Macrorregionais de todas as regiões do estado catarinense.

Os conferencistas puderam debater propostas e resoluções como: i) Política Nacional de Saúde do Trabalhador e Trabalhadora (PNST), princípios, objetivos e diretrizes; ii)desenvolvimento econômico e seus reflexos na saúde dos trabalhadores (as); iii) financiamento da PNST, nos municípios, Estado e União; iv) controle social nas ações de saúde; v) escolha de delegados (as) e representantes para a Conferência Nacional de Saúdedo Trabalhador e Trabalhadora que ocorrerá entre os dias 10 e 13 de novembro de 2014.

O sociólogo e professor da Unicamp/SP, Ricardo Antunes abriu a bateria de palestras sobre o mundo do trabalho e a saúde dos trabalhadores e trabalhadoras. Destacou que, “quando o trabalhador é tragado pela máquina, tendo que cumprir metas e sujeitando-se a ritmos alucinados na produção nãose pode falar em saúde e qualidade de vida das pessoas. Pode-se, sim, falar em massacre e destroçamento dos indivíduos no processo produtivo”.

Para aumentar a produtividade e a lucratividade o capitalismo se reinventa com novos métodos de produção e organização do trabalho. Novos mecanismos, sutis e corrosivos são inventados para envolver e explorar os trabalhadores e trabalhadoras. Para Antunes, nesta esfera “o capitalismo é um ’demônio engenhoso’, que nos momentos de crise se reinventa e recria novas formas de aumentar a produtividade e a exploração dos trabalhadores. Os modelos Taylorista, Fordista e Toyotista são exemplos dessas estratégias produtivas de reinvenção do capitalismo e de exploração das classes trabalhadoras.Esta realidade é fácil de perceber quando, no interior dos processos produtivos, predomina a empresa ‘enxuta’, ‘flexível’, ‘liofilizada’ (que atua e se desenvolve em temperatura constante), procurando sempre garantir o aumento da produtividade e a redução da força de trabalho”.

Isto nada mais é do que o desenvolvimento de novas formas de controlar e subordinar os trabalhadores e trabalhadoras, através de mecanismos e ideologias de que agora, “não somos mais trabalhadores, mas colaboradores; não somos mais empregados, mas parceiros; não somos mais assalariados, mas terceirizados. Enfim, hoje não é mais o relógio que controla o ritmo e o processo produtivo. São as metas impostas pelas empresas que controlam e subordinam os trabalhadores. E aqueles que não atingem tais metas vivem um drama pessoal, adoecem e são afastados do processo produtivo, autopunindo-se pelo fracasso”.

Entretanto, para onde vão os trabalhadoresexpurgados dos processos produtivos? A grande maioria entra para o submundo da terceirização e da precarização do trabalho. Ou seja, passam a viver a condição de ser empregado de si mesmo, encarando a famosa pejotização (pessoa jurídica).

Dessa forma, a terceirização passa a ser um espaço de terror e adoecimento dos trabalhadores e trabalhadoras. Por isso,sentencia Ricardo Antunes, “sou contra a terceirização e a precarização nas relações de trabalho. Sou contra a terceirização porque ela representa a desgraça na vida do trabalhador, em vários aspectos: a) destroça o indivíduo; b) diminui seussalários; c) diminui seus direitos; e,d) o que é pior, divide a classe trabalhadora. Aliás, se a terceirização fosse tão boa assim -como apregoam seus defensores -, porque não permitem, então, a terceirização e flexibilização da propriedade privada? Por que os capitalistas não socializam seus lucros exorbitantes?. Defendo que se terceirize a propriedade privada…”

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Indubitavelmente, os debates e exposições, resultantes da 2ª Conferência Estadual de Saúdedo Trabalhador e Trabalhadora, trouxe-nos luzes importantes sobre os principais desafiose potencialidades do Sistema Único de Saúde (SUS). Mesmo com todas as dificuldades e limitações este programa continua sendo um dos maiores sistemas de saúde pública do mundo, pois cotidianamente consegue atendermilhões de pessoas, das mais distintas classes e regiões do país. Somente em 2012, este sistema garantiu a realização, pública e gratuita, de mais de 1bilhão de examesao povo brasileiro…

Além de tirar 12 propostas de ação e escolher 32 delegados (as) para participar da Conferência Nacional, em Brasília, o evento de saúde do trabalhador e trabalhadoraserviutambém como espaço de socialização de materiais formativos e informativos, como o livro “Trabalhar e Adoecer na Agroindústria” organizado pelo médico, Roberto Carlos Ruiz e a revista do MOVIDA SC organizada pela Fetiesc, cujo título “Trabalho para Viver, não para Morrer”, destaca a importância e necessidade de se conquistar novos patamares de saúde, segurança e qualidade de vida à classe trabalhadora catarinense.

  • Sabino Bussanello é professor e assessor da Fetiesc, Itapema/SC

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