Fetiesc

Encaminhamentos do 19º Encontro da Mulher da Fetiesc – 2020

“É preciso respeitar as diferenças para superar as desigualdades” (Simone Lolatto)

Cerca de 80 pessoas participaram do evento de 8 de março de 2020, na Fetiesc, tendo como temática a “A Inserção na Mulher na Política Sindical e Partidária”, dinamizada pela professora e Drª Simone Lolatto.

As participantes saíram imbuídas de enfrentar três grandes desafios:

1º) Mudanças culturais e comportamentais (âmbito da micropolítica).

Trata-se do esforço cotidiano pra mudar a cultura, os hábitos e os comportamentos, principalmente, com relação à sobrecarga dos trabalhos domésticos, a educação dos filhos e a organização da casa etc. A repartição desse trabalho não é uma questão de “ajuda” ou “colaboração” do homem nos espaços da vida privada. Pelo contrário, é uma questão de corresponsabilidade entre homens e mulheres (superando o sentimento de culpa das mulheres e a carga mental de ter que dar conta de tudo…);

“Liderar processos de mudanças não é caminhar à frente do povo, mas a seu lado”

2º) Mudanças conjunturais e estruturais (âmbito do sistema).

O sistema capitalista assenta-se em três pilares centrais: exploração, opressão e dominação. Machismo, autoritarismo e patriarcalismo nada mais são do que a caricatura desta matriz que considera os homens superiores às mulheres e donos-proprietários de seus corpos. Precisamos superar esta realidade que dissemina preconceitos e todo tipo de violência contra as mulheres (de gênero, raça e sexo). Precisamos reverter este arsenal de contrarreformas que estão massacrando o povo e, especialmente as mulheres trabalhadoras (“PEC da morte”, terceirização, trabalhista, previdenciária). Precisamos varrer da esfera pública os políticos e governantes que são inimigos do povo e da classe trabalhadora (verdadeiros terroristas a mando do grande capital). Agentes públicos que se preocupam, apenas em impor medidas para suprimir direitos de pessoas indefesas, tornando-as escravas das necessidades, dos baixos salários, do subemprego e da informalidade. Não podemos mais tolerar tantas agressões, violências e mortes de mulheres. Não se pode mais aceitar desigualdades e discriminações tanto salariais quanto produtivas (“trabalho igual, salário igual”). Precisamos mudar esse quadro que inferioriza e marginaliza as mulheres no mundo do trabalho e na sociedade. Isso só será possível com muita luta para alterar o sistema de exploração e reconquistar os direitos individuais e coletivos da classe trabalhadora (que estão sendo dizimados na atual conjuntura econômica, social e política);

3º) Mudanças políticas e institucionais.

Onde estão as mulheres nos espaços de poder? Que visibilidade institucional, sindical e política possuem as mulheres no contexto da sociedade brasileira?

As mulheres compõem 52% da população brasileira, mas representam apenas 15% no Congresso Nacional. Em Santa Catarina o índice é ainda menor (12%) e nas direções sindicais da Fetiesc, atingem 23%. Precisamos mudar esse quadro e elevar os índices de participação política das mulheres no âmbito sindical, institucional e partidário. Ao longo do tempo, as mulheres foram ensinadas a não participar da vida pública e ficaram restritas às exigências da vida privada (lar, educação dos filhos, afazeres domésticos etc). Libertar-se da longa e exaustiva jornada de trabalho (que equivale a 95% mais tempo em afazeres domésticos do que os homens, ou 541 horas a mais/ano), significa elevar a participação das mulheres nos espaços de poder político e sindical. Neste sentido, as mulheres precisam superar algumas barreiras como à falta de “ambição”, de “êxito” e de “permanência” nos espaços da política sindical e partidária. A estratégia é liberar-se dessa longa jornada de trabalho e acumular capital político, criando musculatura para enfrentar os principais desafios político-sindicais.

Porém, participar ativamente dos espaços públicos e sindicais exige viabilizar algumas pré-condições: a) no sindicalismo é preciso participar da luta sindical, entrar nas diretorias e fazer a diferença; b) na política, requer botar a mão na massa e envolver-se em sua dinâmica cotidiana; c) conhecer as plataformas políticas e as práticas dos políticos eleitos (estudando seus posicionamentos e acompanhando seus votos nas matérias de interesse coletivo); d) filiar-se em partidos comprometidos com a classe trabalhadora (esquerda); e) candidatar-se aos cargos eletivos, conquistando espaços e tornando-se representante “orgânico” da classe trabalhadora (em defesa de seus direitos e políticas públicas).

O objetivo político da Fetiesc é lutar para reduzir a desigualdade de gênero e, para 2020, é incentivar o máximo de mulheres às disputas eleitorais municipais; fazer formação política e qualificar as mulheres, e por fim, eleger pelo menos 5 mulheres sindicalistas da base da Fetiesc.

 Lembrete: “Nem tudo o que se enfrenta pode ser modificado, mas nada pode ser modificado até que se enfrente” (homenagem de James Baldwin, na lápide de Martin Luther King). Bom trabalho a todas e todos.

Itapema, 10.03.2020

Sabino Bussanello (prof. e Mestre em Educação e Trabalho)

Imprensa Fetiesc

Imprensa Fetiesc