Fetiesc

Seminário Sobre Mobilização e Sindicalização

Seminário, coordenado pelo diretor do Dieese nacional, Clemente Ganz Lúcio, debateu formas de Mobilização e Sindicalização, reunindo dirigentes de 15 Sindicatos filiados

A debilidade da estrutura sindical brasileira está na pouca participação da mulher e da juventude trabalhadoras na luta sindical, decorrente da falta de organização de base. Estas foram as conclusões do Seminário sobre “Mobilização e Sindicalização”, realizado dia 24 de junho, no Centro de Educação Sindical da Fetiesc, em Itapema, e que contou com a participação de dirigentes e trabalhadoras e trabalhadores de base de 15 Sindicatos filiados à Federação. O Seminário é uma realização da Secretaria de Formação da Fetiesc e foi coordenado pelo diretor técnico do Dieese nacional (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-econômicos), Clemente Ganz Lúcio. Ele constata que, mesmo após 12 anos de governo do Partido dos Trabalhadores, o movimento sindical não conseguiu implantar as comissões de fábrica nas empresas “e nem fazem pressão para isso. Falta organização de base porque a CLT não nos dá esse direito, é um problema da estrutura sindical brasileira que divide a classe trabalhadora por categoria e não permite a presença do Sindicato no local de trabalho”.

Como fazer?

A realização de Seminário específico para debater estratégias de mobilização e sindicalização dos trabalhadores surgiu das visitas feitas pelo presidente da Fetiesc, Idemar Antônio Martini, a todos os 43 Sindicatos filiados. A pouca participação nas assembleias foi o problema unânime apontado pelos dirigentes, já que os trabalhadores não participam nem mesmo da aprovação das reivindicações por aumento salarial. “Ouvimos inúmeras alternativas para isso, alguns fazem atividades como o Dia da Criança, uma imensidade de gente, duas mil pessoas, ou Festival de Prêmios que chega a reunir 12 mil pessoas. Já nas Assembleias, onde inclusive muitos oferecem prêmios, a participação é de 400 pessoas. Como fazer com que o trabalhador venha para o Sindicato?” questiona Martini, lembrando que esse problema existe em todos os estados. O assessor de Formação da Fetiesc, Sabino Bussanello, resgata a importância do novo sindicalismo nos anos 80 que “após 21 anos de ditadura civil-militar conduziu um processo de resistência e luta operária, organizando-se nos locais de trabalho e nas oposições sindicais, empunhando a bandeira da liberdade, democracia e eleições Diretas Já, além das lutas contra o imperialismo americano e os desmandos do FMI (Fundo Monetário Internacional). Nesse ambiente, surgiu no país uma série de militantes e lideranças novas – “a Fetiesc retoma a luta em 1988, com uma nova base de organização sindical, onde o Dieese se estrutura com novos profissionais, que ajudaram a construir esse Brasil, hoje uma Nação soberana”, disse Sabino.

Ferramenta de luta

O palestrante seguiu na mesma linha de pensamento sobre o papel do Sindicato, desde a sua origem, enquanto ferramenta de luta da classe trabalhadora. “O trabalhador recebia o salário pelo seu trabalho e o dinheiro passou a representar essa riqueza produzida. Ele percebe então que, sozinho, não conseguiria enfrentar os patrões, que é preciso estar juntos, reunir aqueles que estão na mesma condição”, explica Clemente. “Hoje em dia, não é assim, o Sindicato virou uma instituição com força e poder, houve descolamento do seu propósito original, a instituição ficou mais forte do que o sujeito que a cria, passou a ser mais importante do que o próprio trabalhador”, exemplifica, “e se o trabalhador não participa porque o Sindicato perdeu a conexão, temos aí um problema sério”.

Onde os Sindicatos atuam a sociedade é menos desigual, existe disputa para que a riqueza produzida pelos trabalhadores seja distribuída. “Entre os anos de 1964 e 1984, o Sindicato esteve proibido de disputar, de atuar e a sociedade chegou a níveis maiores de desigualdades”, lembrou o palestrante, citando o individualismo como o grande problema da sociedade atual: “O padrão de consumo transforma cada indivíduo em consumidor, vende para as pessoas a ideia de que precisa trocar o celular a cada seis meses para serem mais importantes”, exemplifica, “e o Sindicato precisa compreender isso”.

Juventude

Clemente Ganz Lúcio manifesta preocupação com ausência dos jovens no movimento sindical. “Não sabemos dialogar com a juventude que está entrando no mercado de trabalho. Daqui a pouco esses jovens estarão em nosso lugar e nunca coordenaram uma reunião, uma assembleia”. O palestrante cita que “dois terços dos dirigentes de uma das maiores centrais sindicais do Brasil vieram da empresa sem nenhuma experiência anterior, ou seja, vieram com a formação da escola e do patrão e acabam virando massa de manobra”. Para o diretor do Dieese os jovens estão prontos para a mobilização – “as manifestações de junho do ano passado mostraram isso, existem hoje movimentos fortes contrários ao capitalismo e dispostos a se mobilizar de maneira rápida”, citando como exemplo o Movimento Passe Livre que luta há 10 anos, mas, somente em 2013 tornou-se conhecido nacionalmente.

Operário presidente

A eleição de Lula à presidente do Brasil foi destacada pelo palestrante. “Somos uma das únicas experiências da história da humanidade que elegeu um operário como presidente. Na época diziam que era um semianalfabeto, que não falava inglês e que, caso eleito, provocaria uma debandada dos empresários no Brasil; se eleito, não assumiria, se assumisse, não chegaria ao final do mandato”, lembrou Clemente. “A sociedade reelegeu esse operário porque na democracia isso é possível, pelo tipo de organização que temos, é nossa capacidade de enfrentar a classe dominante, ou seja, ao conquistarmos isso, mudamos algumas realidades”.

Política de valorização do Salário Mínimo

A política de valorização do Salário Mínimo foi uma das realidades mudadas pelas centrais sindicais no Brasil, que foram reconhecidas legalmente, resultado dos governos Lula e Dilma. “De 2003 para cá, marchas de trabalhadores foram realizadas, até que, em janeiro de 2011, a presidenta Dilma mandou novamente o Projeto de Lei ao Congresso Nacional e determinou prioridade para votar a política de valorização do Salário Mínimo e foi aprovada, ou seja, o mesmo Congresso que era contra, no governo Lula, votou por unanimidade, com medo da força social. Hoje, o salário mínimo está em mais de R$ 700,00, multiplicamos por 7 o valor praticado nas décadas de 80 e 90”. Clemente cita ainda a redução do desemprego – hoje somos mais 50 milhões com carteira assinada -, a ampliação da indústria naval, construção de escolas técnicas (passou de 157, nos governos FHC, para mais de 400, nos governos Lula e Dilma.  O ponto chave, nesta questão, ainda é investir pesado em Educação, “porque agrega valor”, adverte Clemente, exemplificando: “O Brasil exporta minérios de ferro para a China, que voltam em navios cheios de trilhos de trem. Pagamos seis vezes mais pelo preço do trilho de trem. Isso acontece com o petróleo, a soja, laranja, a carne, ou seja, não agregamos valor àquilo que temos. Quando a União volta a construir universidades e Escolas Técnicas e paga R$ 5 mil para um professor, começamos a agregar valor”. Além disso, Clemente destaca que precisa haver reformas tributária e política no Brasil e o Sindicato tem que ser instrumento dessa mobilização.

Sugestões dos grupos

Os próprios dirigentes presentes ao Seminário, após trabalho realizado em grupos, destacaram algumas prioridades para atrair os trabalhadores para a luta sindical. Entre elas, a realização de Cursos de Formação permanentes, cursos sobre a CLT, estabelecer um percentual definido de jovens e mulheres nas diretorias dos Sindicatos, maior comunicação com o chão de fábrica, atualização com os novos meios de comunicação, fortalecer encontros das Mulheres e Jovens, atuar nas rádios comunitárias, levar o Sindicato para a porta de fábrica, junto com os trabalhadores. Além desses, foi destacado o trabalho “intersindical”, como a luta pelo saneamento básico, transporte coletivo de qualidade, escola, apoiar associações comunitárias, ou seja, o Sindicato precisa atuar em assuntos que afetam a vida de todos os trabalhadores. Otimista, Clemente acha que “cada vez mais a juventude vai perceber a importância da cooperação, da inter-relação, da solidariedade, da ação conjunta e da amizade, que estão na origem do sindicalismo. Os jovens terão que encontrar no Sindicato a solidariedade, porque o mundo vazio do individualismo não vai longe”, resume o palestrante.

Para Martini, “não há uma receita de bolo que faça a prática da mobilização e sindicalização tornar-se fácil. Existirá resultado se houver uma organização de base permanente, o contato direto e diário com os trabalhadores de fábrica, a divulgação das ações do sindicato nas redes sociais, panfletos, cartazes, assembleias”. O presidente ainda reforça que mobilizar e sindicalizar não é simples. Um exemplo citado é a presença de 15 dos 43 sindicatos filiados a Fetiesc: “Este seminário é resultado das pesquisas realizadas nos sindicatos filiados, com interesse das diretorias e não conseguimos mobilizar a metade. Mas, não vamos desistir, continuaremos investindo em Formação Política, na informação e na conscientização dos dirigentes sindicais e trabalhadores(as), para que possamos mudar este quadro desolador de baixa representação da classe trabalhadora no Congresso Nacional e na vida política brasileira”, finaliza Martini.

As fotos do evento será disponibilizadas amanhã (26.06.2014)

Abaixo você pode visualizar a gravação do Seminário em 3 partes:

Primeira Parte:

Segunda Parte:

Terceira Parte:

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