Carlos de Cordes, Dé*
A cada novo dia, cresce nossa preocupação em torno do futuro da classe trabalhadora brasileira. Testemunhamos um congresso nacional com contorno patronal jamais visto no Brasil desde o período da monarquia e do império. Dá as cartas no cotidiano dos brasileiros um mercado financeiro especulador, aprisionando nosso povo em uma ditadura econômica que não mede consequências. Para completar o quadro, o governo federal refém destas forças nefastas.
Onde poderá apelar a classe trabalhadora e seus órgãos de representação? Ao Ministério Público do Trabalho que não se cansa de tentar baixar sua espada afiada no sistema de sobrevivência das entidades sindicais? Os representantes da classe trabalhadora podem recorrer ao Ministério do Trabalho e Emprego, que depois de ser mortalmente ferido pela falta de renovação de seu quadro de pessoal se tornou um “puxadinho” da Previdência Social? Evidentemente que não.
Se antes o MTE já não atendia a demanda, pior ficará, mostrando que mais uma vez estão sendo atendidos os interesses da classe patronal e isto representa precarização das condições de trabalho e a afronta e ameaça aos direitos trabalhistas.
Mesmo acuado, o governo federal poderia ser o oásis daqueles que suam gotas de sangue e tiram de sua força de trabalho o sustento de suas famílias? O mesmo governo que restringe o acesso ao seguro desemprego, ao abono salarial ou aos direitos previdenciários daqueles que se tornam doentes por conta da atividade profissional ou reduz direitos previdenciários?
Dos céus, quem sabe, possa vir uma força divina e atenue as incertezas do futuro e as mazelas do presente? Apesar da boa nova da igreja católica, colocando no seu trono mais alto um argentino que conquista a todos por sua humildade e vontade de defender os fracos e oprimidos, há uma explosão de templos fundados apenas para explorar os trabalhadores, vendendo esperança de vida eterna e nada mais.
O jornalista Apparício Torelly, que no século passado se auto intitulou Barão de Itararé, diria que “onde menos se espera, aí é que não sai nada” e a frase é adequada aos trabalhadores brasileiros. Os parlamentares que nos representam em Brasília, nos estados e nos municípios já mostram que dos trabalhadores interessam apenas os votos. O governo, que atende os políticos e o mercado, dos trabalhadores se interessa somente pelos impostos que pagamos e a igreja, na melhor das hipóteses, vai orar por nossas almas.
Diante desta trágica realidade e cada vez mais preocupado, exorto aos companheiros dos sindicatos, federações, confederações, centrais sindicais e movimentos sociais e populares para repensarem a situação. Por mais que tenha feito isto nos últimos meses, não consigo ver outra saída senão nós mesmos, a classe trabalhadora. É preciso não esquecer que no mundo capitalista existem apenas dois lados: trabalhadores e patrões e a eles interessa, única e exclusivamente, o lucro, nem que para isto seja preciso do nosso couro fazer a correia que movimenta seus negócios.
Os trabalhadores e suas representações estão feridos de morte! Abandonemos a passividade, enfrentemos a dura realidade e paremos para convencer a classe trabalhadora de que o futuro de todos nós depende somente da nossas próprias forças. É preciso reinventar a representação dos trabalhadores, mudar paradigmas, conceitos e práticas. É fundamental mudar de ideia, pois como também dizia o Barão de Itararé, “não é triste mudar de ideias, triste é não ter ideias para mudar”.
* Carlos de Cordes, Dé, presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Plásticas, Químicas e Farmacêuticas de Criciúma e Região; vice-presidente da Federação dos Trabalhadores na Indústria de Santa Catarina (Fetiesc); Coordenador do Departamento Químico da Fetiesc; Secretário Macrorregional Sul de Santa Catarina da UGT (União Geral de Trabalhadores).