A Organização Internacional do Trabalho (OIT) publicou no dia 28/04 um documento intitulado ” La Prevención de las Enfermedades Profesionales”. Um texto composto por: estatísticas mundiais sobre o tema, apresentando seus limites; alertas para novas doenças; discurso para mobilização dos trabalhadores e empregadores, com o objetivo de fazer com que ambos atores assumam seus papéis no trabalho de prevenção; e, descrição das ações implementadas pela OIT.
No capítulo final intitulado “El camino a seguir” destaca-se alguns objetivos: a)melhorar a colaboração das instituições de segurida de e saúde […]; b) integrar a prevenção nos programas de inspeção […]; c) fortalecer os sistemas de indenização por acidentes de trabalho […]; d) atualizar lista nacional de enfermidades do trabalho de acordo com a da OIT; e) intensificar o diálogo social […]. Em síntese, um texto de leitura triste.
São mais de 2 milhões de trabalhadores mortos por ano (6.300 mortos por dia) em função de doenças do trabalho ou acidentes no ambiente de trabalho. Mas esse número não condiz com a realidade, reconhece a OIT. Comumente, as estatísticas que os países dispõem dizem respeito apenas a economia formal e sabe-se que, pelo menos, metade das atividades econômicas desenvolvidas no mundo são informais. Muitas dessas atividades em setores que apresentam maior risco, como o da construção, da agricultura e mesmo da mineração.
A falta de objetividade dos organismos internacionais ou nacionais em lidar com o problema seja talvez um reflexo do fato de que, no fundo, é impraticável fazer algo além do que foi apresentado acima. Oficialmente, não se reconhece o fato de que esses acidentes, doenças e mortes, fazem parte da natureza do modo de produção preponderantemente aplicado na sociedade moderna. O texto da OIT ainda apresenta um “novo” risco que admite ser resultado das rápidas mudanças nas técnicas produtivas, trata-se dos transtornos musculoesqueléticos e mentais.
No dia 24 de abril o Rana Plaza, prédio de oito andares localizado numa cidade próxima a capital de Bangladesh, desabou. Apesar de ser um prédio com estrutura para escritórios, abrigava 5 confecções que empregavam, aproximadamente, 3 mil pessoas. Já foram declaradas mortas, aproximadamente, 1/3 desse total. O número de corpos retirados dos escombros cresce diariamente. Cinco meses antes , um incêndio causou a morte de 111 trabalhadores em outra fábrica de roupas no país. O ministro do setor têxtil(1) de Bangladesh, Abdul Latif Siddique, afirmou: “Constatamos que aqueles que afirmavam manter os mais altos padrões de segurança nas fábricas de Bangladesh não cumpriram integralmente com as regras de construção.”
(1)Bangladesh é o segundo maior exportador mundial de produtos têxteis, depois da China. Os produtos têxteis representam 80% das exportações do país. Em Bangladesh, 40% da força de trabalho está empregada na indústria têxtil. Dentre os mortos muitos recebiam um salário menor que 30 euros por mês.
Alguns podem dizer: “O que podemos fazer? Naquele país os trabalhadores são tratados quase como escravos”. Pois bem, é por isso que várias empresas têxteis de Santa Catarina estão investindo e produzindo em Bangladesh, ou simplesmente importando produtos têxteis desse país. Mas não apenas em Bangladesh, como em outros países que lhes apresentam as oportunidades que já se esgotaram no Brasil, países como o Paraguai. O próprio Sindicato das Indústrias de Fiação, Tecelagem e do Vestuário de Blumenau (Sintex) tem se empenhado em apresentar essas vantagens para os empresários têxteis da região, que já se deslocam para o país vizinho por oferecer melhor “competitividade” (leia-se isenção de impostos e precarização das relações de trabalho). São esses mesmos empresários que posam como os guardiães da ética e da moral em nossa sociedade. Os mesmos que discursam sobre a responsabilidade social. No fundo, são coniventes com o que aconteceu e acontece em Bangladesh e em todo o mundo. Não se cansam de recl amar do elevado “custo Brasil” e reivindicar maior flexibilização das relações de trabalho. Vestimos roupas tingidas com suor e sangue, nacional e importado.
(*) Economista, técnico da subseção do Dieese na Fetiesc.