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“Brasil, desafio imenso que vale a pena.”

Brasil, desafio imenso que vale a pena.

*Daniel dos Passos
*José Álvaro Cardoso

Além da histórica retirada do Brasil do Mapa da Fome da Organização das Nações
Unidas, o mês de setembro trouxe outras boas novas para o país:
1.A renda média mensal das famílias, segundo a Pesquisa Nacional por Amostras de
Domicílio (PNAD-IBGE/13), subiu 3,4% acima da inflação no ano passado e o
rendimento médio dos trabalhadores assalariados apresentou aumento de 3,8% acima da
inflação. Apesar da crise mundial, os dados de 2013 mostram que o Brasil continuou
elevando a renda, na contramão do que vem ocorrendo no mundo;
2. Entre 2004 e 2013, a renda média da população como um todo cresceu 35% acima da
inflação. Mas, a dos 10% mais pobres expandiu cerca de 73%. Considerando os 50%
mais pobres, o avanço foi superior a 60%, com impactos evidentes sobre a demanda e a
produção.
Apesar da pobreza da discussão sobre o assunto, o Brasil se encontra na melhor
situação em termos de distribuição de renda em toda a sua história. O que não é pouca
coisa, considerando que a economia mundial enfrenta a sua mais grave crise desde
1929. O que surpreende diante desse contexto internacional é que os indicadores sociais
apresentam um balanço é extremamente positivo. A concentração de renda diminuiu
significativamente, o salário mínimo teve aumentos reais expressivos, 36 milhões de
pessoas saíram da miséria e a taxa de desemprego atingiu seus menores níveis
históricos. Nos últimos anos, poucos países apresentaram um desenvolvimento social
tão amplo quanto no Brasil. Por isso o combate à fome obteve tanto êxito.
Algumas dificuldades históricas do país têm que ser enfrentadas ainda com maior
determinação. Os juros continuam entre os maiores do mundo e o câmbio precisa ser
desvalorizado, sob pena de a indústria brasileira perder cada vez mais espaço no
mercado interno e externo. Por conta dos juros, os encargos da dívida pública
continuam drenando boa parte dos esforços da sociedade brasileira. Essa transferência
de renda faz com que o 1% da população adulta mais rica concentre mais de 25% de
toda a renda da 7ª economia do planeta. Esta questão, difícil de ser compreendida pela
maioria da população, está por detrás de todo o debate atual sobre Banco Central
independente, nível da taxa Selic, e temas relacionados.

Certamente não foram os problemas apontados acima que derrubaram as ações da
Petrobrás em 10% na última semana de setembro, levando a Bovespa a maior queda em
um dia nos últimos três anos. A rigor, não há razões econômicas objetivas que justifique
uma queda das ações da empresa. Pelo contrário, os dados positivos abundam: Somente
os campos de Libra, Búzios, Florim, Iara e Nordeste de Tupi (todos do pré-sal),
somados, farão saltar a produção entre 18 e 26 bilhões de barris, consolidando o país
como um dos maiores produtores de petróleo do mundo. As novas reservas de petróleo
do Brasil, são responsáveis por 40% de toda as descobertas mundiais de petróleo nos
últimos cinco anos e a empresa tem a maior carteira de investimento do planeta. Caso a
lógica da bolsa estivesse vinculada ao desempenho financeiro das empresas as ações da
Petrobrás deveriam “bombar”. Não devemos ser ingênuos: por trás dos ataques à
Petrobrás, além do interesse eleitoral mais imediato, estão poderosos e dissimulados
interesses das grandes multinacionais do petróleo.
É inegável que a queda recente da bolsa está muito mais relacionada à especulação e
à tentativa de chantagear a sociedade, no atual processo eleitoral. Essa situação,
amplamente divulgada na mídia como se fosse o fim dos tempos, dá a impressão do país
estar passando por grave crise econômica. Segundo o site Infomoney, que acompanha
rotineiramente a evolução das ações, o lucro dos investidores com as ações da Petrobrás
na bolsa foi, somente em setembro, de 1.120% (sem considerar os custos da operação).
Portanto, a queda das ações da empresa, que vinham subindo consistentemente desde o
início do ano, apesar dos ataques sofridos, não tem nenhum fundamento econômico,
sendo fruto tão somente da especulação eleitoral e da ganância dos investidores.
Objetivamente, o Brasil dispõe atualmente de alguns fatores de resistência à crise
mundial que não são triviais, e que são perseguidos por qualquer nação do mundo, com
pretensões de desenvolvimento: reservas em moeda estrangeira de US$ 376 bi; estoque
de petróleo e gás, que pode chegar a 100 bilhões de barris, avaliada em cerca de R$ 5
trilhões; crescimento contínuo da renda das famílias nos últimos dez anos e a
constituição de um dos maiores mercados de massa do planeta. Não é pouco, e dar
continuidade aos avanços sócio econômicos deste país é desafio imenso que vale a
pena.

                                                                                                               *Economistas e técnicos do DIEESE.

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