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Na pandemia, jovens aprendizes sofrem com falta de vagas e espaços de convivência

Entre abril e agosto, 86,5 mil postos de capacitação para o trabalho deixaram de ser abertos em todo o país

A atual crise sanitária, com mais de 5 milhões de infectados pela covid-19 e 155 mil mortos no Brasil até meados de outubro, tem ressoado diretamente nas condições socioeconômicas de milhares de famílias brasileiras.

Os jovens aprendizes, que são aqueles jovens que buscam o primeiro emprego, tem sido afetados duplamente: caiu em 86,5 mil o número de vagas oferecidas pelas empresas entre abril e agosto em todo o país, conforme dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), ao mesmo tempo em que entidades que fazem a ponte entre estes jovens e as empresas seguem com seus seus serviços de convivência fechados. Isto é grave, pois os centros de integração entre empresa e escola, como são conhecidas as instituições que fazem a mediação dessa relação, oferecem não só a capacitação profissional, mas também serviços de socialização, responsáveis pelo cuidado com a vulnerabilidade emocional.

É o caso do Centro de Aprendizagem e Melhoramento Profissional (CAMP), associação sem fins lucrativos com atuação na cidade de São Paulo. Segundo Suellen Malombres, líder de Comunicação, Relacionamento e Parcerias do CAMP, desde o início da pandemia “diminuiu muito o número de vagas porque à medida que as empresas foram diminuindo o quadro de contratados efetivos, com carteira assinada, naturalmente diminuiu a cota de aprendiz”.

No CAMP, atualmente, da primeira turma de 60 alunos que abriu um pouco antes do início da pandemia, apenas 3 foram encaminhados para vagas de trabalho. A fila de espera tanto para as vagas de emprego quanto para as vagas para os serviços de convivência, que foram interrompidos por conta da pandemia, já chega a mais de 400 jovens.

“A gente também busca desenvolver as habilidades, as potencialidades, para o jovem entender que a vulnerabilidade dele não é só financeira. Às vezes ele tem uma vulnerabilidade emocional que também influencia”, relata Malombres.

Para ela, a falta dos serviços de convivência afeta consideravelmente o futuro dessa geração. “De tudo o que a gente vivenciou, do início da pandemia até agora, se tem um grande impacto. Todas as entidades de assistência social têm o objetivo da garantia de direito, de querer que o jovem não vá para um caminho errado, que ele não acabe entrando no caminho do mundo de trabalhos informais e de trabalho infantil”, afirma.

Salário do aprendiz complementa a renda familiar

O Programa Jovem Aprendiz é uma forma de contratação de trabalhadores com idade entre 14 e 24 anos e que objetiva dar capacitação durante o processo inicial de ingresso ao mercado de trabalho. O programa foi criado em 2000 a partir da Lei da Aprendizagem. Essa modalidade de profissionalização, além de oferecer capacitação através de atividades teóricas, oferece a garantia de direitos como férias e 13° salário, e uma jornada de trabalho de turno único, para que os jovens mantenham a atividade escolar.

O salário desses jovens é, em muitos casos, fonte de complementação de renda da família. Isso significa que, com o corte nas vagas, várias pessoas do mesmo núcleo familiar possivelmente fiquem sem qualquer tipo de fonte de renda. Muitas vão morar nas ruas: “trabalhando aqui no centro de São Paulo a gente vê que com o impacto da pandemia o jovem e a família foram morar na rua”, diz Malombres.

Se 2020 tem sido difícil, a expectativa para o próximo ano também é ruim. Em 2021 estima-se que o CAMP acesse apenas 100 vagas de emprego para os jovens aprendizes. Na pós-pandemia, não será fácil dar o primeiro passo no mundo do trabalho.

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Fonte: Brasil de Fato

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