Fetiesc

OPINIÃO: Para que chorar na cova de trabalhadores, pobres, pretos e imigrantes?

Idemar Antonio Martini Presidente da FETIESC

Na última semana (26/07), assistimos, de modo velado e até mesmo insensível, o anúncio da morte de oito trabalhadores vítimas de acidente de trabalho, nas dependências da cooperativa C.Vale, do interior do Paraná, no município de Palotina. 

A não ser as notícias sobre os estrondos e prejuízos às toneladas de milho e soja deixados pela tragédia, pouco se viu e ouviu sobre a vida desses trabalhadores. Por coincidência, dos oito mortos, sete eram negros e imigrantes haitianos!

Se não bastasse mais esta lamentável característica do capital – onde os grãos preocupam mais do que as vidas humanas – dias depois da tragédia o Ministério Público do Trabalho (MPT) teve que acionar a cooperativa agroindustrial para que ela liberasse os seus funcionários para comparecerem nos velórios dos colegas. Afinal, para que chorar na cova de trabalhadores, pobres, pretos e haitianos? O negócio é produzir… 

Confesso que considerei bastante tímidas as manifestações de nossas lideranças sindicais e também dos trabalhadores e das trabalhadoras sobre esse trágico fato que condenou à morte os seus semelhantes. Tal situação me leva a pensar que até mesmo a classe trabalhadora passou a concordar que a vida de alguns vale muito menos do que as de outro. Logo: se não são brasileiros, nem ricos, nem brancos e muito menos ‘empreendedores’ –  ‘apenas’ trabalhadores – não há o que se lamentar! E atentem que essa triste lógica do capitalismo está internalizada entre a nossa própria classe trabalhadora.

Indicadores da Organização Internacional do Trabalho (OIT), dão conta que a cada 51 segundos, no Brasil, um acidente de trabalho é registrado. Pasmem: apesar das subnotificações das empresas, mesmo assim, oficialmente, a cada 51 segundos um acidente de trabalho é registrado. 

Todo esse descaso moral e de corrosão dos direitos humanos nos leva àquilo que chamamos de ‘trabalhadores precários e supérfluos’, aos quais os imigrantes estão incluídos.  

Em Palotina, além dos funcionários mortos, outros tantos ficaram feridos. Mas deixemos para lá, nada disso importa! Vamos contabilizar os prejuízos nas estruturas dos silos e nos grãos perdidos, afinal o sistema nos convenceu de que isso vale muito mais do que as vidas dessa gente pobre, preta e imigrante, facilmente substituíveis. 

Ainda mantenho acesa a chama da esperança de que um dia a classe trabalhadora haverá de voltar a se sensibilizar com as dores e sofrimento do próximo. Ainda sonho com um movimento sindical solidário às dores dos outros, como se elas também fossem nossas. Apesar de tudo, ainda acredito que neste Brasil de cultura escravagista ainda restam corações que se solidarizam com os constantes ataques à classe trabalhadora e que entendem que a vida de cada um é o capital mais valioso que se há de zelar! 

Imprensa Fetiesc

Imprensa Fetiesc