Fetiesc

TRABALHO: A ‘justiça’ poderá ser definida pelos robôs

Há expectativas de que nos próximos cinco anos, 69 milhões de postos de trabalho sejam criados e 83 milhões eliminados

O que é justo ou injusto? O que é certo e o que é errado? Quem tem razão: o patrão ou o empregado? Essas e outras perguntas estão sendo entregues, cada vez mais, ao desenvolvimento das tecnologias e o avanço da inteligência artificial. Na Estônia, por exemplo, já há projetos em que as duas partes enviam os documentos relevantes de um processo para a justiça e, por sua vez, a inteligência artificial toma a decisão, a qual pode ser revista por um juiz humano. 

É mais um passo da humanidade e das grandes empresas de tecnologia para o fim do emprego e a acumulação de mais e mais lucros. Recentemente, o estudo do Trabalho 2023, elaborado pelo Fórum Econômico Mundial com o apoio da Fundação Dom Cabral e publicado recentemente pela Revista Forbes, indica que 23% das ocupações devem se modificar até 2027. 

Há também a previsão de que teremos 26 milhões de empregos a menos até 2027 – impulsionado principalmente pela digitalização e automação.

Há a expectativa de que, neste período dos próximos cinco anos, 69 milhões de postos de trabalho sejam criados e 83 milhões serão eliminados, o que corresponde a uma redução líquida de 14 milhões de postos de trabalho, ou 2% do emprego atual.  

As tendências advindas com a Revolução Industrial, e os dados anunciados pelas recentes pesquisas, conduzem o Desembargador da Justiça do Trabalho (TRT4), Dr. Marcelo Ferlin D’ Ambroso, a advertir que em pouco tempo uma big tech distribuirá justiça por meio de um programa vendido ao Estado. 

Conforme ele, é preciso atentar que “A ‘inovação’ é produto do Consenso do Vale do Silício e, infelizmente, o Poder Judiciário está assumindo o preceito como uma lógica de gestão, naturalizando a mercantilização da justiça via ‘novas tecnologias’. 

Ainda conforme D’ Ambroso, “o movimento sindical deve se preocupar com a implantação das novas tecnologias no Poder Judiciário, porque a Justiça do Trabalho é sempre ponta de lança nestas questões. Não adianta reivindicar direitos se depois o Estado não garantirá a efetividade pelo desaparelhamento e mercantilização, via novas tecnologias. As duas questões devem andar juntas”.

Por seu turno, o presidente da Federação Sindical dos Servidores Públicos no Estado do Rio Grande do Sul  (FESSERGS), Sergio Arnoud, lamenta esta realidade em que a diminuição do Estado é idolatrada pela sociedade que está cada vez mais seduzida pela acumulação de lucro e, consequentemente, desta forma, torna-se mais difícil o enfrentamento do avanço descontrolado da tecnologia.

Nesta mesma seara, o presidente da Federação dos Trabalhadores nas Indústrias de Santa Catarina (FETIESC), Idemar Antonio Martini, parafraseia Martin Luther King Jr. que acreditava que enquanto as pessoas não deixarem de se curvar diante o poder do capital, não chegarão a algum lugar; isso porque King Jr. acreditava que uma pessoa não consegue nada com a postura curvada. Com isso Martini revela que acredita que  uma vez que a classe operária e os pobres acordarem, se levantarem e se colocarem de volta na luta por seus direitos e pela dignidade humana, eles, enfim, poderão mudar o mundo. 

 

Inteligência Artificial no mundo do trabalhoEm sua recente passagem pela sede da FETIESC, o economista Maurício Mulinari, do DIEESE/SC, destacou que o aumento desenfreado tanto da tecnologia quanto da Inteligência Artificial (IA) parte do pressuposto que essas estão voltadas ao aumento da produtividade, ou seja, o objetivo é cada vez mais produzir mais com menos trabalhadores.

Conforme ele, assim como ocorreu com os operários da década de 70 do século XX, em breve, devido ao ubíquo desenvolvimento da IA, também passaremos a assistir os trabalhadores com características intelectuais sendo substituídos pelas máquinas. Nesse contexto, compreende ele que: “A tecnologia é a tônica da humanidade, logo, o problema é a forma capitalista da tecnologia. Esse processo tecnológico gera uma massa de desempregados que, consequentemente, gera uma pressão sobre a massa dos empregados”, analisa.

Deste modo, o avanço tecnológico, conforme Mulinari, exige a retomada sindical da luta pela redução da jornada de trabalho; bem como se manter contrária ao aumento e a intensificação do trabalho (adoecimento psicológico) causados pela escala da IA. 

Outro problema contemporâneo por ele destacado é o desemprego estrutural do capitalismo no qual há menos gente produzindo em contraponto a uma crescente massa de desempregados. “Mais do que nunca é preciso repensar a atuação do sindicato frente ao adoecimento dos trabalhadores”, adverte.

 

Imprensa Fetiesc

Imprensa Fetiesc