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Sindicalistas catarinenses discutem os desafios e perspectivas perante o novo governo Lula

O seminário de formação promovido pela FETIESC reuniu dezenas de participantes, nesta terça-feira (04/04) em Itapema

Dezenas de sindicalistas estiveram presentes no seminário de formação promovido pela Federação dos Trabalhadores das Indústrias do Estado de Santa Catarina (FETIESC), ocorrido nesta terça-feira (04/04), na sede da entidade, no município de Itapema.

Os desafios e perspectivas do sindicalismo perante o novo governo do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi a pauta principal do evento, o qual foi conduzido pelo presidente da federação, Idemar Antonio Martini.

Este, que se constitui no primeiro de uma série de seminário de formação que serão realizados durante 2023, contou com a participação do economista Maurício Mulinari, do DIEESE/SC, o qual iniciou sua apresentação denunciando a ofensiva do grande capital – em escala global e do qual o bolsonarismo faz parte – para a destruição da organização sindical e das relações de trabalho. 

Segundo ele, a história contemporânea registra três processos que desarticularam a classe trabalhadora brasileira: a contínua substituição dos trabalhadores por máquinas; a desarticulação, pela força e violência, da organização da classe trabalhadora e; por fim, a desarticulação do movimento sindical, por meio de mudanças legais.

Numa retrospectiva histórica Mulinari lembrou que a ofensiva contra a classe trabalhadora foi intensificada com a grande crise financeira de 2008, gerada no centro do sistema capitalista – nos Estados Unidos da América – a qual levou  o grande capital a passar a atacar o sistema público voltado à classe trabalhadora, como por exemplo a educação, a saúde pública e os programas de assistência social. Com tal feito o sonho do trabalhador começou a ser destruído! 

Neste mesmo cenário, conforme ele, acelerou-se a desregulamentação e a flexibilização da legislação trabalhista no mundo inteiro o que acabou por precarizar as formas de trabalho que, no Brasil dos últimos anos, somado aos reajustes dos salários mínimos abaixo da inflação e à Reforma Trabalhista e sindical de 2017 que gerou o esvaziamento da Justiça do Trabalho e o fim dos financiamentos sindicais, dentre outros flagelos, causou o empobrecimento do povo brasileiro de tal modo que hoje somos protagonistas da pior década dos últimos 100 anos no que tange à distribuição de renda e desigualdade social. 

No contexto atual brasileiro, Mulinari lembra também que o Lavajatismo foi mais um relevante fator que intensificou a crise ora vivida pelos trabalhadores, isso porque ele foi capaz de paralisar o Estado bem como diversas empresas e estatais, para, por fim, manufaturar a opinião pública em uma disputa ideológica, o que acabou por fortalecer a extrema direita, gestada pelos núcleos militares e pela pequena burguesia, os quais há muito mantém interesse na  vinculação de um Brasil subserviente aos interesses dos Estados Unidos. Tal empreitada assistida nos últimos anos garantiu a vitória de Bolsonaro à Presidência da República e hoje sustenta o bolsonarismo. 

Outras forças importantes que aderiram ao bolsonarismo – além dos militares e da pequena burguesia – foi o setor do agro da fronteira agrícola e das igrejas neopentecostais os quais se somam a um projeto muito bem articulado para gerar ódio à organização da classe dos trabalhadores e trabalhadoras e consolida um projeto neoliberal reacionário, representado pelo governo de Bolsonaro. 

No entanto há de se atentar que, derrotados pela batalha eleitoral de 2022, e após terem interditado rodovias e pousarem por meses em frente aos quartéis, os bolsonaristas invadiram as sedes dos três poderes em Brasília com a sensação de estarem terminando a batalha não como ‘derrotados’ mas sim de maneira ‘heroica’, sob a batuta das forças militares. Tal fato, conforme Mulinari, encerrou a fase eleitoral da qual os bolsonaristas saíram como perdedores, ao mesmo tempo em que conseguiram, com o conjunto de medidas posteriores, se aglutinar e ovacionar os seus ‘heróis da batalha’, demonstrando que o Brasil está em uma permanente disputa de forças antagônicas e que uma nova batalha haverá de surgir com o desenrolar da conjuntura do novo Governo Federal do Presidente Lula. 

GOVERNO LULA – Conforme o economista, a eleição do Presidente Lula significou a exaustão do povo brasileiro com o processo iniciado pelo impeachment da ex-presidente Dilma, em 2016, e que se fortificou com a pandemia da COVID-19 que permitiu a  conscientização de uma parcela significativa dos trabalhadores brasileiros sobre a necessidade da presença do Estado e da coisa pública, como por exemplo os imprescindíveis serviços prestados tanto pelo Sistema Único de Saúde (SUS) quanto pela escola pública. 

Conforme ele, outro fator que contribui para a vitória de Lula se deu tanto pelo movimento sindical quanto pelos setores organizados da classe trabalhadora, os quais, mesmo fragilizados pela Reforma Trabalhista de 2017, mantiveram-se aguerridos na defesa do projeto maior e, com os lamentáveis atos do dia 08 de janeiro de 2023, foram corajosos a manifestarem que a anistia não pode existir novamente no Brasil o que os leva a manter-se mobilizados contra o monopólio da violência, hoje nas mãos dos setores das milícias. 

Já de ordem econômica, Mulinari salienta que compete ao novo Governo Federal resolver três problemas consolidados. O primeiro deles está relacionado à questão das finanças do Estado, levando-se em consideração que ele (o Estado) vem sendo assaltado pela elite econômica dominante. Exemplo disso é o fato de que só em 2022 foram pagos pela União mais de R$500 bilhões em juros; e neste ano o Estado de Santa Catarina estará renunciando a R$22 bilhões em ICMS; ou seja: “Rico não paga impostos e leva o Estado ao próprio sucateamento. É sobre isso que o movimento sindical deve se posicionar”, instiga. 

A segunda questão apontada por ele leva em consideração a conjuntura fragmentada do mundo capitalista global e a escalada da luta armada entre as potências, por exemplo: a guerra entre Ucrânia e Rússia. Para o economista, essa situação vivida nos dias atuais é similar a que deu origem às grandes guerras do século passado e não facilita as ações do novo governo, ao mesmo tempo que, contraditoriamente, abre possibilidades de o Brasil retomar e impulsionar o seu próprio processo de industrialização. 

Por fim, ao considerar a conjuntura do movimento sindical brasileiro, Maurício Mulinari destacou às lideranças sindicais que melhorar a vida do povo em geral se constitui em uma fundamental pauta para reverter todo o processo de destruição das leis trabalhistas e das organizações sindicais; afinal: “Esse é o desafio deste governo e, mais do que nunca, exige um movimento sindical fortalecido e consciente da necessidade de unir toda a classe trabalhadora”. 

 

Imprensa Fetiesc

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